PAISAGEM E QUALIDADE VISUAL NO ARQUIPÉLAGO DE MOSQUEIRO
Dentre
os muitos elementos vinculados ao processo de ocupação e uso antrópico no
arquipélago de Mosqueiro, destaca-se o de qualificação de suas paisagens inerente
aquele espaço territorial no estuário amazônico.
Assim, buscaremos delinear um
olhar e procurar respostas sobre as paisagens e a qualidade visual no
arquipélago de Mosqueiro numa perspectiva que as mesmas sejam potencializadas
no âmbito do turismo, mas, sobretudo da garantia da qualidade de vida dos seus moradores.
Presentemente os conceitos de
paisagem e de qualidade visual são de uso corrente em diversas abordagens e
estudos científicos, donde se sobressaem os pontos de vista e opiniões do observador
ou analista. Dessa forma, da sua construção histórica até hoje, estes conceitos
são encontrados na Geografia, na Geologia, na Antropologia, na Ecologia, dentre
outros.
Paisagens constrastantes: A primeira imagem revela o grande adensamento urbano dos bairros da Vila, Maracajá e Mangueira, porém releva-se as áreas verdes do Parque Ambiental de Mosqueiro. Num ambiente quanto maior
a quantidade de vegetação em uma paisagem, mais as características responsáveis
pela manutenção dos processos ecológicos e, consequentemente, a biodiversidade
é mantida. A paisagem do entorno está
muito comprometida em termos de qualidade ambiental. A preservação dos fragmentos (ilhas de vegetação na paisagem
local), propiciam refúgios para animais dispersores de sementes, principalmente
aves. Na paisagem seguinte, trecho do São Francisco ao Carananduba, têm-se um intenso processo antrópico com as atividades de extração mineral e de ocupações irregulares.
Paisagem é uma determinada
porção do espaço, resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de
elementos físicos, biológicos e antrópicos que reagindo dialeticamente uns com
os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpetua
evolução.
Praia do Carananduba, com destauque para a enseada do Igarapé com o mesmo nome. Em algumas faixas da orla praiana temos passagem diversificada, ambientes naturais ainda preservados, ora com
ocupações desordenadas e atividades que causam agravos ambientais
Modernamente, dentre os vários
estudos voltados a questão temos a Geoecologia [Ecologia da Paisagem] que
possui uma abordagem holística, integradora de ciências sociais, geofísicas e
biológicas, visando em particular, a compreensão global da paisagem e o
ordenamento territorial.
Área do Farol: alto nível de ocupação e adensamento. A
paisagem praiana e seu elementos constituinte lhe conferem beleza e
encantamento.
A paisagem é
definida como uma unidade heterogênea, composta por um complexo de unidades
interativas cuja estrutura pode ser definida pela área, forma e disposição
espacial destas unidades. A escolha de uma das formas de representar as
unidades de paisagem (ecossistemas, unidades de vegetação ou de uso e ocupação
das terras) é feita pelo observador.
Na primeira imagem temos a Praia do Bispo com destaque aos tensores em concreto ao largo do trapiche. Posteriormente temos habitações nas margens do Rio Cajeueiro. Alteração da paisagem natural ao longo das praias e das
áreas inundáveis, isto é, aquelas associadas a rios e lagos, cuja força
controladora é o pulso dágua.
Na Amazônia a realidade da relação simbiótica homem/ambiente torna-se cada
vez mais dramática pela força do agronegócio, do agro extrativismo e da
pecuária que modificando suas paisagens naturais e no urbano pelas perturbações provenientes das construções,
pavimentação, passagem de veículos, controle sobre a vegetação como plantios,
podas, uso de herbicidas, ou uma consequência destas, como deslizamentos de
terra e inundações, erosão e diversas formas de poluição.
A
imagem mostra erosão costeira com consequência no recuo da linha de costa
ocasionando a destruição dos elementos protetores construido na Praia de São Francisco. Na ilha, as áreas de falésias sofrem este processo erosivo sobretudo quando das altas marés. Tal fenômeno tem ocorrência na Baia do Sol, Paraiso, Marahu, São Francisco, Ariramba/Murubira, Praia Grande, além da costa das barreiras.
Os espaços naturais, antropizados ou não,
desta faixa de terra do território amazônico, configurados nas clássicas paisagens
“urbanas” e “rurais” menos cabocla, dentre outras, relevaram Mosqueiro como
principal balneário da Grande Belém Insular e lugar onde ainda é grande a presença
de visitantes e turistas, a procura de conhecer sua historia e desfrutar a
beleza e encantos das paisagens naturais ou espaços modificados pela ação
humana, mais que oferecem desfrutes e qualidade visual. Não é a toa que
“bucólica” em nossa região ser sinônimo de Mosqueiro, face não só a beleza de
suas paisagens mais também da tranquilidade ali encontrada.
Belo pôr do sol na orla do Bispo e vista panorâmica da praia do Ariramba. Atributos de grande qualificação visual da paisagem da ilha.
Na ilha bela, porém
vai-se aos poucos modificando seus atributos da beleza paisagística pelo
domínio do concreto e do asfalto, das ocupações irregulares, das muitas formas
de poluição e de fragmentação de habitat naturais para uso em atividades
fortemente impactantes. Os atuais níveis de ocupação e adensamento merecem ser objeto de um estudo
consubstanciado num plano de ordenamento territorial participativo.
Ambiente onde a ocupação urbana ainda não
está completa convive com as áreas de mangue e de paisagem ribeirinha, como as
encontradas igarapé Carananduba e na faixa de orla da praia.
No complexo emaranhado conceitual
de paisagem, com seus cortes geomorfológico e/ou social, vê-se seu sentido
ligado à ideia de percepção. Sentimentos, estéticas, valores culturais,
processos ecológicos ou político se associam a percepção. Cada interesse revela
um tipo de percepção na paisagem, dando a ela qualidades devidas.
Imagens paisagísticas do histórico Sítio
Conceição (Baia do Sol), da antiga fábrica Bitar no Areião, do centenário mercado
da Vila e de um chalé na orla do Murubira (Belle Époque).
Seguindo a trilha histórica de
Mosqueiro, amalgamada por muitos fatores geológicos e ação de muitos atores
sociais no teatro da vida, quando de sua ocupação e uso, se faz necessário
analisar e registrar, no âmbito das percepções humanas os efeitos estéticos
(cores e formas no território), a dimensão geográfica e ecológica e as
expressões culturais e humanas, potencializadoras de seu desenvolvimento local,
desigual e combinado a outras escalas e parâmetros não só social e econômico,
mas também ambiental e paisagístico dotado de qualidade visual.
A imagem da paisagem do rio Pratiquara traduz além da
beleza do mundo amazônico com seus rios, florestas, tranquilidade e outros elementos constituintes contrastando com o ambiente de praia do Farol lotado em dias de muita
agitação.
Nesta perspectiva, percebe-se que em
Mosqueiro estamos diante de um cenário beirando ao dramático, donde se somam a
cada dia, impactos negativos a esfera das paisagens, na qualidade estética e sanitária
dos seus recursos naturais, mais fortemente também marcando as atividades
sócias e econômicas locais, a saúde, a segurança publica e ao bem estar da sua
população. Assim sendo, muitos elementos oriundos das ações antropogenéticas já
são fazem parte tanto das paisagens recém- conformadas ou das mais antigas.
Imagens
paisagísticas da tranquila Praia do Bacuri na comunidade pesqueira da Baia do
Sol e do balneário Igaracôco no São Francisco.
Que indicadores de análise e
qualificação se pode lançar mão no estudo e registro das paisagens naturais e
antropizada na Ilha de Mosqueiro no presente momento? Estudos revelam dentre os
muitos indicadores apresentados basicamente a qualificação e a valorização de
um ambiente paisagístico pode ser aferido pela sua diversidade, por sua representação em termo de naturalidade e pela singularidade
encontrada na área. Ainda, no sentido verificação do amnbiente, temos o que
chamamos de detratores, isto é, elementos constituídos pela ação
humana (antrópicos) que descaracterizam ou artificializam o ambiente,
distanciando-0s das condições naturais da paisagem.
Vista panorâmica e traçado esquemático sobre a área
praiana do Trapiche da Vila.
Dessa forma, pode-se através de
levantamento e registro, verificar no espaço ilhéu a variedade paisagística
existente. Também, constatar os elementos e estruturas humanas que integram
seus espaços naturais. Busca-se aqui, o nível de naturalidade existente na
paisagem. Por último, não menos importante, temos sua singularidade. Significa
a existência de ocorrências naturais no ambiente ilhéu, como as feições
geomorfológicas existentes, a composição da sua cobertura vegetal e espécies
florestais, a fauna terrestre e aquática e sítios paleontológicos. Que locais
naturais do arquipélago de Mosqueiro receberam ações detratoras e como elas
influenciam na qualidade visual e na paisagem.
Estudos no domínio da paisagem
urbana afirmam que dependendo do foco de interesse os indicadores acima citados
ganham importância ou não no processo de análises. Observa-se, porém, que um aspecto
ganha dimensão no processo de percepção humana e valorização da paisagem.
Trata-se da sua expressão estética concedendo um valor subjetivo.
Imagem de pescadores artesanal na área da vila e no
furo das marinhas. Destaque para o
efeito simbiótico da relação/ação do homem na natureza, quando do relevo
da ponte sobre os corpos dáguas, ambiente da colheita dos recursos aquáticos
locais.
Uma paisagem pode ser valorizada,
dentro da perspectiva do valor visual, quando, por exemplo, apresentar
expressivos tipos de relevos, ilhas, estuários e baias, diversas atividades
antrópicas, vistas panorâmicas com grande alcance visual, vasta e rica
cobertura arbórea, variados corpos d’águas, praias, episódios atmosféricos,
como nascer e por do sol, neve, fauna nativa, dentre outros.
Além das inúmeras praias de água doce,
com ocorrência de ondas, com que marcam a presença anual dos veranistas, a Ilha
de Mosqueiro, detém ainda um conjunto de paisagens naturais e com presença humana
construída ao longo de sua história geológica e sociocultural que merecem ser mais
bem interpretadas e exploradas, dentro de seus atributos e qualidades visuais.
Área da orla Baia do Sol - Ao fundo destaque para o coreto da pracinha.
Tais qualidades podem cada vez mais,
dependendo observador e dos interesses, ser potencializadas dentro da esfera do
turismo e qualidade da vida local, no marco do estado de conservação da
integridade, originalidade ou autenticidade de tais ocorrências e manifestações
seja elas naturais ou culturais.
Além dos estudos e pesquisas voltadas
para interpretação, registro e conservação paisagística e de utilização
eficiente dos recursos naturais, muitas ferramentas legais e institucionais tem
sido construídas com a participação e cooperação de governos, empresas e
comunidades locais. As áreas de preservação permanente (APA´s), por exemplos,
tem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica, a biodiversidade, a fauna e a flora, bem como o solo e assegurar o bem-estar da s populações humanas.
A manutenção de paisagens
diversificadas com valorização das suas qualidades visuais na ilha amazônica de
Mosqueiro torna-se dias de hoje um imperativo, compromisso de todos nós, na
construção de comunidades ambientalmente sustentáveis para a atual e as futuras
gerações.
Fonte:
BERTRAND,
G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de Ciências
da Terra. São Paulo, n.13, 27 p. 1972.
DOMINGOS, Thiago Augusto. Geologia e geomorfologia amnbiental, gestão ambiental V/Thiago Augusto
Domingos – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
mosqueirando.blogspot.com.
baiadosolsempre.blogspot,com.