O porquê da educação ambiental?
Imagem: Praia de Carananduba, Mosqueiro.
A conservação da qualidade do meio ambiente e, conseqüentemente,
da qualidade de vida tem sido uma preocupação da sociedade desde há algum
tempo. Intensifica-se, com isto, a demanda por atividades que estimulem o
desenvolvimento de uma consciência ambiental, não só ecológica, do ponto de vista
da natureza, mas também visando às questões social, cultural e econômica
relacionada à existência do homem.
Dessa forma, uma suposta sociedade sustentável pressupõe a
crítica às relações sociais e de produção, tanto ao tipo de valor, como ao uso
dos recursos e produtos da natureza. Segundo a equipe da Embrapa Pantanal,
devemos partir do princípio de que a educação ambiental é uma proposta que
deveria alterar de forma considerável o modelo tradicional de educação, não
sendo necessariamente uma prática pedagógica voltada para a transmissão de
conhecimentos sobre ecologia no sentido reduzido da palavra.
Seu propósito fundamental é mostrar as correlações econômicas,
políticas, sociais, culturais e ecológicas do mundo, contribuindo, portanto,
para o desenvolvimento de um espírito de responsabilidade e solidariedade entre
os indivíduos e as sociedades.
A modernização agrícola e seu desenvolvimento técnico geraram o
aumento da degradação ambiental, uma aceleração da degradação do solo por uso
indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes químicos e até mesmo do emprego
de maquinário agrícola sem o manejo adequado recomendado tecnicamente. Esse
conjunto de fatores tem causado grandes danos aos animais, às plantas, às águas
e ao próprio homem, chegando neste momento crítico em que tal avanço
tecnológico necessita ser repensado de maneira crítica para garantir inclusive
sua própria sustentabilidade. Apesar de haverem grandes investimentos nas
pesquisas ligados à agropecuária brasileira, o processo de adoção tecnológica
ainda é complexo por diversos motivos que não são o tema agora. Aumentamos a
produtividade em menores áreas, mas a conservação ambiental ainda nos preocupa.
Existe certo consenso de que a consciência ecológica se constrói,
de um lado, na busca de tecnologias alternativas visando superar ou restringir
os constrangimentos que o padrão tecnológico coloca ao meio ambiente cotidiano.
De outro lado ela se constrói pelo movimento social em luta. Pensando no
desenvolvimento desta consciência e de uma sociedade sustentável é possível
problematizar sobre o papel da educação ambiental como instrumento crítico de
reflexão do modelo de desenvolvimento que cada sujeito define como sendo o seu
e o impacto que estas escolhas individuais tem dentro da coletividade.
O debate sobre a educação ambiental no Brasil é relativamente
recente. Há vários trabalhos sendo realizados e algumas discussões sobre a
elaboração teórica que possa fundamentar a sua prática. É importante considerar
a reflexão sobre a prática, referindo-me a relação teoria/prática, sem a qual a
teoria pode ir virando blábláblá, e a prática apenas ativismo. Essa reflexão se
torna fundamental para que fujamos do oportunismo que ronda a temática.
Sabe-se que a educação ambiental surgiu na tentativa de minimizar
e tentar reverter o quadro de degradação ambiental que se instalou no mundo no
último século. Portanto, a educação ambiental possui um enfoque emergencial e
transformador, já que prega a busca por outra forma de relação do ser humano
com o meio em que está inserido. Esta nova forma de enxergar a educação, que
tem muito dos propósitos e diretrizes da educação popular pregada por Paulo
Freire, ainda causa muitos conflitos de compreensão aos educadores ambientais.
Muitos ainda a confundem com transmissão de conhecimentos ecológicos, trazendo
para a educação ambiental um enfoque disciplinar e restrito.
Os raios de ação da educação ambiental vão desde atividades
superficiais (em sua maioria) até chegarem a atividades mais aprofundadas em
seus propósitos. Podemos perceber que muitas delas não possuem nenhum tipo de
vínculo pedagógico, avaliativo e de assessoria com seu público alvo, sequer de
acompanhamento posterior.
Além disso, complementamos que a educação ambiental é uma forma
de educação que exige a participação efetiva dos cidadãos nas discussões que
envolvem a problemática, tentando estabelecer uma “nova aliança” entre o homem
e a natureza e, acima de tudo, estimular e fortalecer a participação social.
Não seria uma educação feita em forma de pacotes, que já chegam para a
sociedade prontos e pré-formulados por uma elite intelectual. Ela seria
construída pela própria sociedade ao serem discutidos os problemas ambientais
do micro ao macro ambiente. Não haveria um único modelo a ser seguido como
correto. Essa participação traria à tona uma reflexão sobre a chamada ética
cidadã, que seria analisada sob diversas vertentes: a econômica, a política, a
cultural, a ambiental e a social.
Podemos subdividir em três grandes espaços de ação da educação
ambiental. São elas: educação ambiental formal (aquela exercida como atividade
escolar dos sistemas oficiais de ensino. Ela possui conteúdos, metodologias e
meios de avaliação claramente definidos); educação ambiental não-formal (aquela
que ocorre em variados espaços da vida social, com diferentes componentes,
metodologias e formas de ação daquela formal. É exercida normalmente por
Organizações Não-Governamentais (ONGs), empresas, secretarias de governo,
etc.); educação ambiental informal (é aquela exercida em outros espaços
sociais, sem compromisso com a continuidade. Não se exige, que defina
claramente sua forma de ação, metodologia e avaliação. Ex: meios de comunicação
de massa).
A educação ambiental surge com a finalidade de (re)integrar o ser
humano no complexo ecossistêmico a que está inserido. Pensar desta maneira, no
entanto, requer mudanças, sobretudo nas diferentes formas de pensar e agir
individual e coletivamente. Bem como refletir sobre qual o tipo de sociedade
queremos considerar como sustentável?
Cristhiane Amâncio