Uma outra visão: ciência, tecnologia e meio ambiente
Há
uma espécie de consenso entre muitos ambientalistas, quando o assunto é a
questão da degradação ambiental, de que a ciência e tecnologia podem ser
grandes mitigadores, restauradoras e até mesmo salvadoras de todos os nossos
problemas. Podemos, por exemplo, analisar a questão do aquecimento global
antrópico, cuja principal causa é a queima de combustível fóssil, emitida por
indústrias e automóveis. Neste caso, é muito difundido que a substituição por
meios de produção menos poluentes e a produção de carros elétricos, por
exemplo, podem trazer a miraculosa solução para esta questão socioambiental.
No entanto, há
algumas reflexões que devemos fazer, antes de aceitar esse discurso. De acordo
com Lima (2011) “ciência e tecnologia são, simultaneamente, parte do problema e
parte da solução, ou seja, são criadoras de risco, mas também são
indispensáveis à detecção e mitigação de seus efeitos nocivos” (p. 31). Ou
seja, ciência e tecnologia assumem um papel ambíguo na crise ambiental, pois,
por um lado elas podem multiplicar os impactos sobre o ambiente através da
exploração econômica e agravar a situação da degradação, e por outro, ela pode
promover e legitimar a divulgação de conhecimentos científicos de modo a
reduzir esses problemas ambientais.
Ciência e tecnologia assumem dessa forma uma posição de não neutralidade, uma vez que elas encontram-se relacionadas a valores e interesses dominantes em uma determinada sociedade, servindo tanto para a mitigação de problemas ou destruição do ambiente. A visão de Mészáros (2011) sobre a questão ecológica é bem mais radical, assegurando o mesmo autor que acreditar que a “ciência e tecnologia podem solucionar todos nossos problemas a longo prazo é muito pior que acreditar em bruxas, já que tendenciosamente omite devastador enraizamento social da ciência e da tecnologia atuais” (p. 989). Para este autor a ciência e tecnologia estão estreitamente relacionadas a questão da maximização do lucro, e não da conservação ambiental.
A
fala de Mészáros (2011) nos leva a uma visão mais ampla e pouco ingênua, de que
mesmo em ocasiões em que a ciência e tecnologia, possam ser direcionadas a
pesquisa e empregadas na mitigação dos problemas ambientais, com a criação de
novas tecnologias menos poluentes, uma vez que elas se encontram associadas a
questão econômica, fica difícil disassociá-la desses interesses, ou seja, toda
ciência e tecnologia sempre estarão relacionadas a obtenção de lucros.
Voltando
ao exemplo do aquecimento global antrópico, que foi citado acima, quer seja na
produção de energia limpa, na busca de meios de produção de tecnologia verde,
carros elétricos ou menos poluentes, a questão per si não é a ambiental e sim a econômica.
Referências
citadas
LIMA, G.F.C. Educação Ambiental no Brasil: Formação, identidades e desafios – 1ªEd. Campinas, SP: Papirus, 2011
MÉSZÁROS, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Tradução Paulo Cezar Castanheira, Sérgio Lessa. 1ª Ed. Revista São Paulo: Boitempo, 2011.