TÉCNICAS DE PESCA ARTESANAIS ANTIGAS E EM USO NA AMAZÔNIA
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Socó: Técnica utilizada em capturas de camarõesm em Bragança-PA |
A Amazônia, pelas suas condições geográficas,
climáticas e físicas de bacia hidrográfica – composta de regiões de várzeas,
lagos, rios, igarapés, paranás, foz de rios e uma extensão marítima banhada
pelo Oceano Atlântico – apresenta características bem definidas: fluvial,
lacustre e marítima (FURTADO, 1981).
Suas águas são ricas em nutrientes e microrganismos
que contribuem para sua fertilidade, estimulando o desenvolvimento da cadeia
alimentar de várias espécies da ictiofauna. Por essas razões, encontram-se
variados tipos de peixes e outros organismos aquáticos bastante apreciados pelo
mercado consumidor, criando assim interesse comercial por esses produtos das
águas, que são importantes à subsistência das populações que vivem da exploração
da pesca nessa região.
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Matapi: Técnica utilizada na capitura de camaróes em Mosqueiro |
As variadas espécies de peixes em todas as regiões
da Amazônia hídrica (FURTADO, 1981) contribuíram para uma alimentação saudável
e abundante à base de peixes, facilitando a ocupação dessa área pelos
colonizadores portugueses, segundo Furtado (1981). Foi o caso da expedição de
Pedro Teixeira em sua missão de exploração, de 1638 a 1639. Nesse período, a
alimentação de sua equipe era à base de produtos naturais (peixes e caças), o
que aumentou a permanência dessa missão na exploração da área.
Nesse tempo não existia a pecuária no Pará, o que
só aconteceu na época das comunidades civis na Amazônia, entre 1759 e 1859
(FURTADO, 1981), quando se começou a criar o boi, do qual se utiliza a carne, o
leite, a manteiga, o couro, etc.
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L. surinamens> espécie utilizada no Conambi. |
A abundância de águas ricas em peixes na Amazônia
favoreceu a pesca artesanal, que é realizada em quase toda a área hídrica dos
3.581.180 km2 da Bacia Amazônica, sendo que 34,3% dessa área fazem parte do
Estado do Pará, composta de rios, lagos, igarapés, foz de rios, num total de
20.512 km 2 de águas internas, habitat de uma fauna ictiológica em regiões
pesqueiras de alta produtividade (FURTADO, 1981),e que conta também com uma
costa marítima que se estende do Maranhão ao Amapá,em uma extensão de 562 km.
As pescas artesanais mais praticadas no Pará são a fluvial, a lacustre e a
costeira. As limitações à pesca artesanal marítima no Pará são devido às condições
precárias das embarcações de madeira, à falta de recursos financeiros e à falta
de tecnologias de navegação. A pesca marítima acima das 10 milhas (MANESCHY,1993)
é realizada por empresas da pesca industrial, que usam barcos de ferro de tecnologia
moderna de pescar, são capitalizados e recebem incentivos fiscais do governo.
O que atribui o caráter artesanal à pescaria,
segundo Furtado (1981), é o uso de tecnologia simples de produção – constituída
de barcos de madeira artesanal, a vela ou a motor –; alguns apetrechos de pesca
serem feitos também de forma artesanal pelos pescadores; os métodos de detecção
de cardumes de peixes serem realizados com base na experiência e observação dos
pescadores; e a precariedade dos meios de produção na captura e na conservação
do pescado.
As técnicas de pesca artesanal usadas na Amazônia,
no período Colonial, ainda eram baseadas em conhecimentos usados pelos índios:
a tapagem de rios, a palheta – que consistia no lançamento de flechas sobre os
peixes –, a narcotização dos peixes por meio da maceração de plantas venenosas
como o cipó-timbó, o cururu-timbó e o conambi. As tarrafas e as redes de
emalhar que ainda são usadas foram técnicas de pescas introduzidas pelos
europeus (FURTADO, 1981).
Nessa época, pescavam-se, além de tartarugas (Dermochelys
coriacea), pirarucus (Arapaima gigas), peixes-bois (Trichechus
manatus) e outros peixes de água doce.
Segundo
Furtado (1981), as técnicas de pesca artesanais antigas e até hoje em uso na
Amazônia são:
Pesca com timbó (Paullinia pinnata L.
Sapindaceae) – timbó-açu e timboí: é realizada com esses cipós venenosos que, ao
serem batidos nos rios, narcotizam os peixes, fazendo-os virem à superfície,
tontos, o que facilita a sua captura.
Pesca com
conambi (há duas plantas ictiotóxicas com este nome: Phyllanthus conami
(Aubl.) Muell. Arg. (Euphorbiaceae) e Libadium surinamensis L.
(Compositae): consiste em preparar iscas de conambi com pirão de
farinha de mandioca. Quando os peixes as ingerem, ficam dopados e sobem à
superfície d’água, facilitando a sua captura.
Pesca com
cacuri: é a pesca que utiliza um tipo de cesto chamado cacuri, manufaturado com
talas de jupati (Raphia taedigera). O cesto possui uma entrada afunilada
por onde os peixes entram sem possibilidade de fuga.
Pesca de
tapagem – Pode ser feita com linha de nylon ou com o pari, uma espécie de esteira feita de talas de marajá (Pyrenoglyphis
maruja). A técnica consiste em cruzar um igarapé com estas linhas ou com as
esteiras, fixando-as a varas cravadas (paritás) no chão, impedindo a fuga dos
peixes (tapagem do igarapé).
Pesca com
matapi: armadilha de forma cilíndrica, fechada por dois cones por
onde entram os peixes e ficam presos. Assim como o
cacuri, o matapi é confeccionado com talas de jupati (Raphia taedigera),
porém este é mais alongado.
Pesca com
gapuia: consiste em vedar um igarapé com aninga e tijuco (de argila) encostado
em paus cravados a prumo no fundo do igarapé, para não deixar escapar a água e
peixes; em seguida, bate-se o timbó para narcotizar os peixes e pegá-los com a
mão ou com o puçá.
Pesca com
maçará: consiste em colocar uma porta no pari para que os peixes
fiquem presos ao entrarem por elas.
Pesca com
pessá: consiste em agitar uma pequena rede (tipo puçá) armada em um arco de
pau e depende de uma vara para prender os peixes dentro do pessá.
Pesca
maponga: consiste em alvoroçar as águas, fazendo barulho para direcionar os
peixes para a rede de pesca e fazer a gapuia ou mucuoca (prender os peixes nas
malhas da rede).
As maiorias das pescarias citadas acima são do tipo
predatória, se realizadas em larga escala, porque não são pescarias seletivas
de tamanhos (podem pescar alevinos ou peixes ovados).
A pesca artesanal no Pará ainda hoje é praticada
com técnicas e práticas antigas, com o uso de redes ou espinhel, que não
são consideradas práticas predatórias quando não usadas em épocas de desovas de
peixes, não causando impactos ambientais, pois são seletivas, ou seja, podem-se
selecionar os peixes adultos pelo tamanho da malha da rede ou pelo tamanho do
anzol do espinhel.
Fonte:
Informações
extraídas e condensadas da Tese de Mestrado (Gestão de
Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia PPGDAM, Universidade
Federal do Pará (UFPA), Núcleo de Meio Ambiente (NUMA), de autoria de Carlos de Souza Arcanjo.
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ARCANJO, Carlos de Souza. Segurança Ambiental: Mapa de Riscos Ambientais da Pesca Artesanal comEspinhel,
Litoral Nordeste do Pará. Carlos de
Souza Arcanjo; Orientador Sérgio Cardoso Moraes._2010, 123 p, Dissertação
(Mestrado) _ PPGEDAM/ NUMA/Universidade Federal do Pará, Belém, 2010.
Disponível em: http://www.ppgedam.pro.br/ppgedam/attachments/article/79/disserta%C3%A7%C3%A3o-CARLOS%20ARCANJO.pdf.
Acesso em: 20 nov. 2013.
Imagens
http://herbario.up.ac.pa/Herbario/herb/vasculares/view/species/559