Ele está voltando: efeitos climáticos de El Niño na Amazônia
Foi detectado aumento da temperatura do mar no centro do oceano Pacífico e vários modelos dinâmicos de previsão antecipam que El Niño pode se desenvolver
A Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) previu nesta quinta-feira 50% de possibilidades que neste ano aconteça o fenômeno de "El Niño", uma corrente de águas quentes no Pacífico que altera o clima de grandes áreas do planeta.Segundo um boletim divulgado hoje pela NOAA, foi detectado um aumento da temperatura do mar no centro do oceano Pacífico e vários "modelos dinâmicos" de previsão antecipam que nos próximos meses "El Niño" poderia desenvolver-se.
"El Niño" é uma corrente de água quente que percorre o Pacífico americano e costuma provocar, segundo os especialistas, uma temporada de maior instabilidade meteorológica, com chuvas mais intensas na América do Sul e um menor número de furacões no Atlântico.
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Em 2005, cerca
de 30% (1,7 milhões de quilômetros quadrados) da bacia amazônica foi afetada,
com mais de 5% da floresta submetida à seca.
Naquele ano o CPTEC/INPE e INMET afirmavam
que a seca caracterizava-se por possuir o menor índice pluviométrico nos
últimos 40 anos; Para os pesquisadores daqueles centros de pesquisa “não havia
evidências de que esta seca de 2005 seja um indicador de mudanças climáticas na
região, associadas ao desmatamento ou aquecimento global. A Seca de 2005
parece ser parte de uma variabilidade natural de clima, onde anos secos e
úmidos alternam-se na escala interanual”.
Um estudo da
agência espacial americana (Nasa) revela que uma área da floresta amazônica com
duas vezes o tamanho da Califórnia (equivalente a mais de 800 mil quilômetros
quadrados) continuou sofrendo os efeitos de uma grande seca que começou em
2005.
Os pesquisadores
atribuem a seca de 2005 ao aquecimento das temperaturas da superfície do mar do
Atlântico tropical. "O mesmo fenômeno climático que ajudou a formar os
furacões Katrina e Rita, ao longo da costa dos EUA, em 2005, provavelmente
também causou a grave seca no sudoeste da Amazônia", acredita Sassan
Saatchi, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, na
Califórnia.
"Esperávamos
que a cobertura da floresta se recuperasse depois de um ano com o vigor da nova
vegetação, mas o dano parece persistir até a seca subsequente, em 2010",
afirmou o coautor do estudo, Yadvinder Malhi, da Universidade de Oxford, no
Reino Unido.
Impactos do
fenômeno El Niño e La Niña têm sido observados nas regiões do país, mais
intensamente nas regiões Norte, Nordeste (secas durante El Niño) e Sul do
Brasil (secas durante La Niña) e excesso de chuva e enchentes (durante El Niño).
Se o El Niño aumentar em frequência ou intensidade no futuro, o Brasil ficará
exposto a secas ou enchentes e ondas de calor mais frequentes. Porém, a
incerteza de que estas mudanças aconteçam ainda é grande e alguns extremos do
clima podem acontecer independentemente da presença do El Niño ou La Niña, afirma Marengo.
Relação floresta
e clima na Amazônia
A cobertura de flora auxilia no aumento da umidade
do ar, pois o vegetal retira umidade do solo, por meio das raízes e mandam para
a troposfera, pela evapotranspiração. Esse mecanismo promove o aumento na
umidade do ar e consequentemente o aumento na quantidade de chuvas na região.
Por outro lado, Pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia-IPAM,
afirma que quando ocorrem mudanças no uso do solo, ou seja, uma floresta é
derrubada e queimada, dando lugar ao estabelecimento de pastagem, agricultura
ou outra forma de uso da terra, ocorre a liberação de uma grande quantidade de
carbono na forma de CO2 para a atmosfera contribuindo, assim, para o
aquecimento global. O desmatamento, a exploração madeireira e os incêndios
florestais associados aos eventos de El Niño cada vez mais frequentes e intensos,
poderão aumentar significantemente as emissões de carbono oriundas de mudanças
no uso do solo, consequentemente diminuindo o quantitativo de chuvas na região.
O ciclo que se inicia com o desmatamento e/ou exploração madeireira que
diminuem a quantidade de água que a vegetação libera para a atmosfera
(evapotranspiração) e, consequentemente, reduz o volume das chuvas. Com menos
chuvas, há maior possibilidade de ocorrência de incêndios florestais que, por
sua vez, provocam a mortalidade de árvores. Além disso, a fumaça produzida
pelas queimadas (em campos agrícolas e pastagens) e pelos incêndios florestais
interfere nos mecanismos de formação das nuvens, dificultando a precipitação.
Todos estes fatores podem ser ainda potencializados pelo aquecimento global
que, por sua vez, pode tornar cada vez mais intensos e frequentes os fenômenos
de El Niño, ameaçando ainda mais a
valiosa biodiversidade da floresta amazônica.
Estudos recentes
afirmam que o ar que passa sobre grandes áreas de floresta tropical produz pelo
menos duas vezes mais chuva do que o que se move através de áreas com pouca
vegetação. Em alguns casos, florestas contribuem para o aumento de precipitação
a milhares de quilômetros de distância, de acordo com o estudo publicado na
revista Nature.
Considerando as estimativas
futuras de desmatamento, os autores afirmam que a destruição da floresta pode
reduzir as chuvas na Amazônia em 21% até 2050.
Simulando
o efeito do El Niño na Floresta Amazônica
Alguns modelos de circulação global sugerem
que a Amazônia pode estar vulnerável a seca extrema em resposta aos
deslocamentos de circulação causados pelo aquecimento global, o que pode causar
perdas das florestas tropicais, com aceleração potencial do aquecimento global.
Apresentamos,
assim o Documento de Divulgação do Projeto “Seca-Floresta”, que propõe avaliar,
através de uma abordagem experimental, a resposta da vegetação florestal à uma
seca produzida artificialmente. Os principais resultados conseguidos até o
momento estão relatados neste documento.
Grande parte da floresta amazônica só existe devido
a sua alta tolerância à seca. Mais da
metade das florestas da região sofrem
estiagens anuais que duram de três a cinco meses, entre julho e novembro. Mesmo
após várias semanas seguidas sem uma única gota de chuva, continuam verdes,
úmidas e imunes ao fogo. Isto acontece porque estas florestas apresentam raízes
profundas o suficiente para, durante a seca, captar água do solo que se
encontra estocada a mais de 10 metros de profundidade. São as chamadas
“florestas de raízes profundas”. Mas esta resistência à seca tem o seu limite.
Se a estiagem for muito prolongada, como acontece durante o evento climático
conhecido por El Niño, o solo profundo também ficará seco, impedindo que as
raízes se abasteçam de água. Por conta das mudanças climáticas globais, do
desmatamento descontrolado e das queimadas, é possível que no futuro os
períodos de estiagem sejam mais frequentes e mais intensos na Amazônia. Sob
esta condição climática, a floresta da região tal como a conhecemos hoje,
estará sujeita a transformações que a tornarão mais seca, quente e susceptível
ao fogo.
- Categoria: Documentos e relatórios
- Formato: PDF
- Tamanho: 2.28 MB
Tags: Mudanças
Climáticas
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Fontes:
Marcelo
Cohem. Geociências Aplicadas aos Recursos Hídricos – Elementos de
Climatologia, Apostila doc. 62 p., Aed-UFPA, Belém, 2014.
Marengo,
José A. Mudanças climáticas globais e seus
efeitos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das
alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI / José
A. Marengo – Brasília: MMA, 2006. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/imprensa/_arquivos/livro%20completo.pdf