Mulheres indígenas fortalecem direitos dos povos tradicionais no Pará
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Foto: Thiago Gomes/Ag. Pará |
Cada povo possui seus próprios costumes, mas de forma geral dentre a divisão dos papéis por sexo
Na Semana dos Povos
Indígenas, em São Félix do Xingu, no sudeste paraense, um concurso de
beleza elegeu uma representante do Kayapó como a 'Beleza Indígena',
entre 20 candidatas. Além da beleza, as mulheres indígenas tem tido um
destaque maior nos movimentos sociais e participam cada vez mais da vida
política, além de exercer papel cada vez maior na luta pelos direitos dos povos
tradicionais.
A atual população indígena
brasileira, segundo dados do Censo Demográfico realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, é de 896,9 mil indígenas.
Metade desta população é formada por mulheres. Os números revelaram um
equilíbrio entre os sexos para o total de indígenas: 100,5 homens para cada 100
mulheres, com mais mulheres nas áreas urbanas e mais homens nas rurais.
A atual população indígena
brasileira, segundo dados do Censo Demográfico realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, é de 896,9 mil indígenas.
Metade desta população é formada por mulheres. Os números revelaram um
equilíbrio entre os sexos para o total de indígenas: 100,5 homens para cada 100
mulheres, com mais mulheres nas áreas urbanas e mais homens nas rurais.
Cada povo possui seus próprios
costumes, mas de forma geral dentre a divisão dos papeis por sexo, às mulheres
cabe a colheita, o preparo de alimentos, a fabricação de utensílios, tecidos e
adornos, a preservação do fogo, o cuidado inicial da prole e dos mais velhos.
Quando o assunto é saúde, dados
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelam que cerca de 50% das mulheres
indígenas sofrem de anemia grave e, entre as crianças, esse número chega a 66%
na região Norte. Além disso, 15,7% das mulheres indígenas do país são obesas e
30,2% delas apresentam sobrepeso.
Empoderamento
O movimento de mulheres indígenas
começou a ser organizado no Brasil na década de 70 e 80. Não era algo
institucionalizado, eram mulheres ganhando voz dentro do movimento indígena e
levantando questões relacionadas a gênero. Sobre o assunto, a referência é a
publicação “Mulheres Indígenas, Direitos e Políticas Públicas”.
Em 2000, na Assembleia Ordinária
da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), em
Santarém, no oeste do Pará, foi reivindicada a criação de um ambiente
específico para as demandas das mulheres indígenas.
Atualmente, o feminismo indígena
está bem mais organizado e articulado do que se comparado às décadas
anteriores, e também não é raro vermos mulheres indígenas liderando movimentos
que falam não só sobre as questões específicas de gênero, mas sobre questões
cruciais do movimento indígena como um todo.
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Foto: Thiago Gomes/Ag. Pará |
Puyr Tembé, Oé Payakan
Kayapó e Okitidi Sompré Gavião são lideranças de três etnias diferentes no
Pará. Não apenas se destacam pela beleza de seus traços raciais, mas também por
desempenharem um papel político, social e que lutam pela manutenção da
identidade cultural de seus povos e pelo respeito aos direitos fundamentais do
ser humano.
Puyr Tembé, 40 anos, é gerente de
Promoção e Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas na Secretaria de Estado de
Justiça e Direitos Humanos (Sejudh). Para ela, a mulher aparece cada vez mais
por exercer um protagonismo que a cada dia cresce na sociedade e dentro de suas
próprias comunidades.
Não é a toa que Puyr Tembé faz
parte hoje do Governo do Estado e pauta as questões indígenas dentro das ações
do poder público estadual. “Falar sobre empoderamento feminino ainda é muito
difícil dentro das comunidades. Ainda há uma resistência forte”, comenta. Mas
esta não é uma realidade generalizada. Em algumas regiões já se avançou
bastante no que diz respeito aos direitos femininos.
Puyr faz parte de um povo que já
possuiu uma cacique, Verônica Tembé, falecida há dois anos. Ela conta que
Verônica era respeitada tanto pelos caciques quanto por todas as gerações
Tembé. “Muitas mulheres tem como exemplo, Verônica Tembé. Uma mulher que sabia
o que queria, sabia definir muito bem as estratégias de luta do povo Tembé e
sabia fazer a gestão enquanto líder do nosso povo”, relembrou.
Foi
graças a Verônica Tembé, comenta Puyr, que hoje seu povo conta com mulheres
Tembé professoras, técnicas de enfermagem, à frente de projetos dentro da
comunidade.
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Foto: Thiago Gomes/Ag. Pará |
Mulher Kayapó
Desde criança Oé Payakan Kayapó,
33 anos, acompanhou a luta de seu pai Paulinho Payakan, um dos caciques mais
respeitados pelo povo Kayapó. “Quando cresci eu decidi somar à luta para
melhorar a vida do meu povo e para não deixar perder a tradição Kayapó”, explica.
Toda a força que move Oé provém
do amor que ela sente pelos Kayapós. “Eu sou uma indígena e procuro estar
sempre presente ao lado deles”. As mulheres Kayapó possuem uma liderança que as
representa, Tuyra Kayapó, que ficou conhecida, na década de 80 por passar um
facão no rosto do representante do Governo Federal no primeiro encontro dos
povos indígenas realizado em Altamira.
Mesmo com todos os avanços, Oé ressalta que o papel tradicional da mulher
voltado para os trabalhos domésticos familiares ainda prevalece. “Elas vivem
para a família, pois isso já é tradicional da cultura Kayapó, em torno da
família e em torno das crianças. Mesmo desempenhando o papel tradicional elas
também querem ser ouvidas”, ressalta.
Por ter sua vida toda voltada
para o núcleo familiar, as mulheres cumprem um papel determinante neste
processo de conquista, “pois elas sabem com profundidade o que é bom para a
aldeia e para todos os indígenas”. A mulher Kayapó também é dotada de uma
personalidade muito forte. “Elas que determinam o que deve ser feito. O homem é
apenas o porta voz”, complementou.
Mulher Gavião
Okitidi
Sompré Gavião é originária da etnia Xerente, do estado do Tocantins, mas há 30
anos mora com a etnia Gavião. Ela comenta que neste povo a mulher desempenha
seu papel tradicional de plantar e colher, mas acima de tudo se dedica ao
trabalho da pintura corporal, dança e música tradicionais. “A menina já não
casa e tem filhos tão cedo porque ela se preocupa em lutar juntamente com o
guerreiro, pelo direito e defesa de suas terras”, explica.
Okitidi comenta que há uma
mudança de comportamento no que diz respeito a forma como a mulher define seu
futuro. “Hoje ela procura estudar, se formar e fazer parte de movimentos pela
luta dos direitos indígenas”, pontua.
Até
chegar a etnia gavião, Okitidi percorreu uma longa distância. Seu pai é Xerente
e sua mãe é Guarani, do litoral de São Paulo. O casal veio para o Pará e foi
abrigado pela etnia Gavião, os únicos descendentes do mesmo tronco lingüístico,
e por aqui tiveram vários filhos, entre eles, Okitidi. “Minha língua é a língua
Gavião”, ressalta.
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Portal Amazônia, com informações da
Agência Pará