Gelo combustível, a promissora fonte de energia que a China extraiu do fundo do mar
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Embora pareça com gelo, o hidrato de metano é inflamável (Foto: USGS) |
Imensa reserva energética de hidratos de metano poderia substituir o
petróleo e o gás natural; país asiático deu grande passo ao extrair grandes
quantidades do composto.
A China anunciou ter extraído do fundo do Mar da China Meridional uma
quantidade considerável de hidrato de metano, também conhecido como gelo
combustível, que é tido por muitos como o futuro do abastecimento de energia.
Num comunicado
emitido na semana passada, autoridades do país asiático comemoraram o feito.
Isso porque a tarefa é considerada altamente complexa, e já tinha sido alvo de
tentativas pelo Japão e pelos Estados Unidos, sem muito sucesso.
Mas o que é
exatamente esse composto e por que ele é considerado chave como uma promissora
fonte de energia no mundo?
Reservas
imensas
O gelo
combustível ou gelo inflamável é uma mistura gelada de água e gás.
"Parecem
cristais de gelo, mas quando se olha mais de perto, a nível molecular, veem-se
as moléculas de metano dentro das moléculas de água", explica à BBC Praven
Linga, professor do Departamento de Engenharia Química e Biomolecular da
Universidade Nacional de Cingapura.
Conhecidos como
hidratos de metano, formam-se a temperaturas muito baixas, em condições de
pressão elevada. São encontrados em sedimentos do fundo do mar e ou abaixo do
permafrost, a camada de solo congelada dos polos.
O gás
encapsulado dentro do gelo torna os hidratos inflamáveis, mesmo a baixíssimas
temperaturas. Essa combinação rendeu-lhe o apelido de "gelo de fogo".
Quando se reduz
a pressão ou se eleva a temperatura, os hidratos se decompõem em água e metano.
Um metro cúbico dessa substância libera cerca de 160 metros cúbicos de gás - ou
seja, trata-se de um combustível de grande potencial energético.
O problema, no
entanto, é que extrair esse gás é um processo que, por si só, consome muita
energia.
Países
pioneiros
Os hidratos de
metano foram descobertos no norte da Rússia nos anos 1960, mas foi há apenas
dez ou 15 anos que começou a pesquisa sobre como extrai-lo dos sedimentos
marinhos.
O Japão foi
pioneiro na exploração devido à sua carência de fontes de energia natural.
Outros países líderes na prospecção de gelo combustível são Índia e Coreia do
Sul, que tampouco têm reservas próprias de petróleo.
Americanos e
canadenses também são bastante atuantes neste sentido - o foco de suas
explorações tem sido nos hidratos de metano abaixo do permafrost do norte do
Alasca e Canadá.
Por que
importa?
Pesquisadores
acreditam que os hidratos de metano têm o potencial de se tornar uma fonte de
energia revolucionária que poderia ser fundamental para suprir necessidades
energéticas no futuro.
Existem grandes
depósitos abaixo dos oceanos do globo, sobretudo nas extremidades dos
continentes. Atualmente, vários países estão buscando maneiras de extraí-lo de
forma segura e rentável.
A China
descreveu a extração feita na semana passada como "um feito
importante".
Praven Linga
compartilha dessa visão: "Em comparação com os resultados que temos visto
na pesquisa japonesa, os cientistas chineses conseguiram extrair uma quantidade
muito maior de gás".
"É
certamente um passo importante em tornar viável a extração de gás dos hidratos
de metano", acrescentou.
Estima-se que
sejam encontradas dez vezes mais gás nos hidratos de metano do que no xisto, do
qual pode ser extraído gás natural e óleo e também tem servido como alternativa
energética.
"E essa é
uma estimativa conservadora", ressalva Linga.
A China
descobriu o gelo combustível no Mar da China Meridional em 2007 - uma área cuja
soberania tem sido disputada entre o país, o Vietnã e as Filipinas.
Pequim reclama
domínio sobre a área, alegando ter o direito de exploração de todas as
potenciais reservas naturais escondidas abaixo da superfície.
Futuro
Embora o êxito
da China seja um avanço importante, esse é apenas um passo de um longo caminho.
"É a
primeira vez que os índices de produção são realmente promissores", disse
Linga. "Mas acreditamos que só em 2025, na melhor das hipóteses, poderemos
considerar realistas as opções comerciais", acrescenta.
Segundo a
imprensa chinesa, eles conseguiram extrair, da região de Shenhu, uma média de
16 mil metros cúbicos de gás de elevada pureza por dia.
Linga ainda
ressalta que as empresas que potencialmente operem na exploração do material
devem seguir condutas bastante rígidas de controle para se evitar danos
ambientais.
O perigo é que
o metano escape, e isso teria consequências graves para o aquecimento global,
já que se trata de um gás com um potencial de impacto sobre as mudanças
climáticas muito maior do que o dióxido de carbono.
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