Usinas propõem inundar 1.085 km2 da Amazônia
Um trio de novas hidrelétricas que poderão ser erguidas na Amazônia
prevê a inundação de uma área equivalente à da cidade do Rio de Janeiro, em uma
das áreas ambientais mais sensíveis de toda a região, entre a fronteira dos
Estados do Mato Grosso, Rondônia e Amazonas.
Na última semana, conforme
apurou o Estado, a empresa paranaense de engenharia Intertechne Consultores,
que assina projetos de grandes hidrelétricas erguidas na Amazônia – como Belo
Monte, Santo Antônio e Teles Pires –, registrou pedido de autorização na
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para estudar a viabilidade de três
usinas. As hidrelétricas seriam erguidas em meio a uma série de unidades de
conservação ambiental e terras indígenas, nos rios Aripuanã e Roosevelt.
O que chama a atenção nos
três projetos são as imensas áreas de vegetação que teriam de ficar debaixo
d’água por conta da construção das barragens, tudo para gerar um volume
relativamente baixo de energia.
A usina de Sumaúma, segundo
os estudos, teria capacidade de gerar 458 megawatts (MW) de energia. Para isso,
no entanto, inundaria 420 quilômetros quadrados de mata. A hidrelétrica de
Quebra Remo entregaria mais 267 MW, desde que 233 km² de floresta fiquem
submersos. A terceira usina, a de Inferninho, prevista para o lendário Rio
Roosevelt, onde vivem os índios cinta-larga, poderia produzir 310 MW de
energia, mas deixaria 432 km² de vegetação cobertos por um lago artificial.
Passada a régua, as três
usinas adicionariam 1.035 MW de energia ao País, com o custo de inundar 1.085
km² da Amazônia, quase a dimensão de toda a capital fluminense, com seus 1.250
km². Para se ter uma ideia do que isso representa, a hidrelétrica de Belo
Monte, com capacidade de 11.233 MW previstos para serem retirados do Rio Xingu,
possui um reservatório de 478 km². Como previsto no projeto de Sumaúma, a
hidrelétrica de Santo Antônio inundou 420 km², na região de Porto Velho (RO),
no Rio Madeira, mas para gerar 3.568 MW de energia, ou seja, oito vezes o que
se promete conseguir com a nova usina.
Crítica
Criticadas por organizações
socioambientais, os projetos hidrelétricos já foram analisados pela empresa
espanhola Endesa e a estatal Eletronorte, da Eletrobrás. Chegaram inclusive a
serem incluídos como planos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas
foram deixados de lado por conta da complexidade em que estão metidos. Já se
sabe que há diversas unidades de conservação ambiental que seriam diretamente
atingidas pelos lagos. Além de diversas terras indígenas demarcadas no entorno
da região.
O presidente da Intertechne, Antonio Fernando Krempel,
admite as dificuldades de avançar com os empreendimentos como estão, mas diz
que “é possível fazer uma abordagem diferente, reduzindo impactos”.
Krempel não detalhou quais seriam os novos impactos,
mas garantiu que já é possível dizer que os projetos têm condições de saírem do
papel. “Nossa intenção é realizar novos estudos e aprofundar. O que pretendemos
fazer é uma abordagem diferente em relação ao que havia nos estudos de
inventário”, disse. “Fizemos algumas simulações, ainda teremos que fazer alguns
levantamentos topográficos, mas sabemos que há alternativas viáveis.”
A empresa está disposta a gastar cerca de R$ 20
milhões em cada estudo técnico. O prazo para que os levantamentos fiquem
prontos é de um ano e meio, em média. Apesar de ter atuado até hoje como uma
empresa de engenharia contratada por terceiros para realizar projetos de usina,
a intenção da companhia paranaense é entrar nas novas usinas como investidora,
em sociedade com companhias do setor elétrico.
Por: André Borges
Fonte: O Estado de São Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo
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