Estudo comprova que desmatamento da Amazônia afeta chuvas até na Argentina
O desmatamento pode causar uma grave redução das chuvas nos trópicos, com
graves consequências para as pessoas, não só nesta região, mas em áreas
vizinhas, disseram pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, e do
Centro de Ecologia e Hidrologia do Conselho de Pesquisa Ambiental Britânico.
"As observações mostram que, para compreender como as florestas impactam as chuvas, temos de levar em conta a forma como o ar interagiu com vegetação durante sua viagem de milhares de quilômetros", disse Stephen Arnold, um pesquisador da Universidade de Leeds e co-autor do estudo.
"Isso tem implicações importantes para os tomadores de decisão quando se considera o impacto ambiental do desmatamento, já que seus efeitos nas chuvas podem se sentir não só localmente, mas em uma escala continental".
"O Brasil fez recentemente alguns avanços na redução dos altos índices de desmatamento, e nosso estudo mostra que este progresso deve ser mantido".
Um estudo anterior, publicado na revista Nature em janeiro, mostrava que a combinação de agricultura, desmatamento e mudança climática estão enfraquecendo o ecossistema amazônico, potencialmente levando à perda de sua capacidade de retenção de dióxido de carbono e geração de chuva.
O estudo conclui que, apesar da grande redução do desmatamento na Amazônia brasileira (28 mil hectares por ano em 2004 para 7.000 hectares em 2011), a floresta permanece frágil.
O ar que
passa sobre grandes áreas de floresta tropical produz pelo menos duas vezes
mais chuva do que o que se move através de áreas com pouca vegetação. Em alguns
casos, florestas contribuem para o aumento de precipitação a milhares de
quilômetros de distância, de acordo com o estudo publicado na revista Nature.
Considerando
as estimativas futuras de desmatamento, os autores afirmam que a destruição da
floresta pode reduzir as chuvas na Amazônia em 21% até 2050 durante a estação
seca.
"Nós
descobrimos que as florestas na Amazônia e na República Democrática do Congo
também mantêm a precipitação nas periferias destas bacias, ou seja, em regiões
onde um grande número de pessoas depende dessas chuvas para sobreviver",
disse o autor do estudo, Dominick Spracklen, da Escola sobre a Terra e o
Ambiente da Universidade de Leeds.
"Nosso
estudo sugere que o desmatamento na Amazônia ou no Congo poderia ter
conseqüências catastróficas para as pessoas que vivem a milhares de quilômetros
de distância em países vizinhos."
Impacto na Argentina, Paraguai, Brasil e Uruguai
O estudo
demonstra a importância fundamental da proteção à floresta, segundo seus
autores.
Em
declarações anteriores à BBC, o cientista José Marengo, especialista em
mudanças climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil,
Inpe, explicou por que a floresta amazônica afeta as chuvas tanto no sul do
Brasil quanto em Argentina, Uruguai e Paraguai .
Os ventos
alísios, que vêm do Oceano Atlântico para o continente, arrastam umidade para o
interior da América do Sul tropical, isto é, a Amazônia e o Nordeste do Brasil.
E além da humidade que vem do Atlântico, a vegetação amazônica contribui para o
aumento da umidade através do processo de evapotranspiração, como é denominada
a evaporação dos rios juntamente com a transpiração das plantas.
"Esta
umidade é carregada pelo vento em direção aos Andes, que desvia para o Sudeste
da América do Sul. Assim, algumas das chuvas que ocorrem na bacia do Rio da
Prata, incluindo sul do Brasil, de fato vêm da Amazônia ", disse Marengo.
"Se
não existisse a floresta amazônica, o Sul teria menos umidade, de forma que
Paraguai, Uruguai, Argentina e o sul do Brasil devem à Amazônia parte de suas
chuvas".
Deslocamento de ar
Os
cientistas têm debatido a ligação entre a vegetação e precipitação ao longo de
décadas. É sabido que as plantas retornam a umidade do ar através do processo
de evapotranspiração, mas não está claro o impacto das florestas tropicais em
termos de quantidade e distribuição geográfica.
Os
autores do novo estudo usaram dados de satélite da Nasa sobre a vegetação e
precipitação, e um modelo de previsão de padrões de movimentos de vento.
Os pesquisadores analisaram a trajetória das massas de ar de diferentes
partes de florestas. Quanto maior era a vegetação sobre a qual o ar tinha
viajado, maior umidade e a quantidade de precipitação produzidos. "As observações mostram que, para compreender como as florestas impactam as chuvas, temos de levar em conta a forma como o ar interagiu com vegetação durante sua viagem de milhares de quilômetros", disse Stephen Arnold, um pesquisador da Universidade de Leeds e co-autor do estudo.
"Isso tem implicações importantes para os tomadores de decisão quando se considera o impacto ambiental do desmatamento, já que seus efeitos nas chuvas podem se sentir não só localmente, mas em uma escala continental".
"O Brasil fez recentemente alguns avanços na redução dos altos índices de desmatamento, e nosso estudo mostra que este progresso deve ser mantido".
Um estudo anterior, publicado na revista Nature em janeiro, mostrava que a combinação de agricultura, desmatamento e mudança climática estão enfraquecendo o ecossistema amazônico, potencialmente levando à perda de sua capacidade de retenção de dióxido de carbono e geração de chuva.
O estudo conclui que, apesar da grande redução do desmatamento na Amazônia brasileira (28 mil hectares por ano em 2004 para 7.000 hectares em 2011), a floresta permanece frágil.