AS EMBARCAÇÕES DE MADEIRAS NA ILHA DE MOSQUEIRO
Embarcação em madeira sendo construida no Porto do Cajueiro - Mosqueiro,
Qual o papel das embarcações
de madeira no desenvolvimento de nossa região e mais especificamente para a
Ilha de Mosqueiro? Se necessitamos dessa atividade, como podemos realizá-la de forma sustentãvel, isto é, sem agredir o meio ambiente.
Em face de sua grandeza
espacial e suas características de ambientes inóspitos, até hoje presente em
algumas áreas da Amazônia, com difícil acessibilidade para ocupação e
exploração da mesma, as embarcações de madeiras cumprem até hoje papel de
relevância para o desenvolvimento das comunidades regionais.
Travessia de balsa no furo das marinhas - Belém/Mosqueiro (1965). Detalhe para o moderno e o tradicional.
Com uma vegetação densa e a
presença de inúmeros entrecortes de rios e suas ramificações (igarapés e
furos), estes corpos d’águas contribuíram para uma ocupação humana dispersa por
este território, porém incentivou pelos fartos cursos fluviais
intercomunicantes da maior bacia hidrográfica do mundo, assentamentos as margens
dos mesmos, inúmeros aglomerados humanos - cidades, vilarejos e comunidades
ribeirinhas.
Montarias (de troncos e de três tábuas) ancoradas no Porto Pelé - Mosqueiro.
No curso histórico da região, tanto o
nativo quanto o colonizador ocidental tiveram de superar estes
ambientes adversos e suas longas distâncias, nas suas atividades de uso e
ocupação das terras. Assim, os ambientes exigiram dentro da tecnologia
existente e dos materiais disponíveis a feitura e a utilização de embarcações de
madeira na conquista e conhecimento de novas áreas interiores, finalidades de
meios de vida e sobrevivência e manutenção da rede social.
Imagem do saudoso navio de passageiro Antônio Lemos no trapiche de Mosqueiro.
Tendo o rio como rua, como
disse o poeta, o nativo, o colonizador, mais tarde o tapuio e o caboclo,
garantiram através das embarcações de madeiras a vida humana nos centros e nos hinterlands regional. Através desse elemento integrador da região se compunha sua
economia, as relações sociais, a religiosidade.
Segundo Moreira &
Fernandes (2009), à guisa de conclusão de sua pesquisa, sobre as embarcações de
madeira no Pará:
A
análise dos resultados permitiu considerar que as embarcações de madeira no
Estado do Pará constituem elementos da cultura material local envolvidos
tradicionalmente na estrutura da vida cotidiana sob aspectos sociais e
econômicos. Em relação ao aspecto social, a referência às embarcações de
madeira ocorre de maneira comum e espontânea pela população paraense,
principalmente a ribeirinha, quando tematizam-se assuntos relacionados a
veículos para integração sócio-espacial,
ou quando registra-se a participação daquelas em eventos de natureza religiosa
e de cultura popular, citando aqui o Círio Fluvial de Nazaré e Reveillon na
Orla de Belém, entre outros. Quanto ao aspecto econômico os barcos de madeira
demonstram estabelecer relação íntima com o comércio pesqueiro, o transporte de
mercadorias para abastecimento dos municípios ribeirinhos, o transporte de
passageiros entre as diversas localidades ao longo dos ambientes lacustres,
costeiros e fluviais. A construção artesanal das embarcações em madeira é uma
atividade que gera renda para as pessoas que nela trabalham e que nela obtém o
sustento material de si mesmas e de suas famílias.
Imagem do Círio Fluvial de N.S. do Ò - Mosqueiro
Analisando seus elementos
(projeto, dimensionamento, construção, materiais envolvidos, tipos de madeira,
mão de obra, ferramentas utilizadas, custos e manutenção das mesmas) e os tipos
de relações sociais estabelecidas, religiosidade e perfil ocupacional dos
sujeitos da pesquisa, os pesquisadores enfatizam a importância das embarcações
para a região:
(...) a
relevância das embarcações construídas artesanalmente em madeira para a vida do
homem amazônida, especialmente do paraense, devendo os órgãos de gerência
pública atentarem para este fato e buscarem no âmbito de suas competências
estabelecerem ações que auxiliem a manutenção da existência desta atividade
propiciando a organização de uma produção mais qualificada em termos técnicos
promovendo assim condições mais dignas e cidadãs para os artesãos carpinteiros
navais e seus ajudantes que encontram nessa taividade uma expressão da capacidade
criativa e um fazer que propicia suas auto-identificações enquanto seres
biopsicosociais, culturais e históricos.
Segundo Meira Filho, autor
de “Mosqueiro, ilhas e vilas”, nesta ilha amazônica, desde tempos imemoriais,
este processo se estabelecera com os índios Tupinambás, “exímios canoeiros”, na
arte da pesca e cuja alimentação se concentrava no moqueio de peixe, passando
pela fase de vigilenga de pescadores até os dias atuais, onde a pesca local se
estabelece não apenas como uma importante atividade econômica, mas, sobretudo
como um rico legado dos pescadores e ribeirinho dessa comunidade tradicional no
estuário amazônico.
A construção e uso de embarcações de madeira na ilha, voltadas para pesca, como meio de transporte e servindo a outras atividades, tem-se como legado cultural e patrimonial de muitas gerações de povos que por ali se estabeleceram ou que culturalmente influenciaram às contínuas adaptações sociais, por meio do conhecimento tradicional.
Por outro lado, um aspécto chama atenção: a atividade não agride o meio ambiente, já que a escolha de madeira para confecção das embarcações é seletiva, isto é, poucas espécies florestais servem de matéria prima na construção de barcos. Além disso, os barcos de madeiras são mais agradáveis a nível de conforto témico. Quanto sua resistência material pelo contacto com a água, dependerá de tratamento quimico e de manutenção constante.
A exploração legal e racional dos recursos existentes
(madereiros) mobilizados na construção naval devem interferir o mínimo possível no
equilíbrio entre o meio ambiente e a sociedade.
Tipos de embarcações de pesca da Ilha de Mosqueiro construidas em madeira: Em sentido horário Canoa a vela, barco de médio porte, barco de pequeno porte e montaria.
Estudo realizado em 2010 na
ilha de Mosqueiro sobre sua pesca artesanal caracterizou a estrutura de
embarcação em madeira voltada para captura do pescado, dessa forma:
Nas 08 (oitos) áreas
da ilha de Mosqueiro, o levantamento mostrou que de acordo com as definições de
embarcações de pesca artesanal, CPNOR/IBAMA (1998), baseada no trabalho da
unidade familiar ou no grupo de vizinhança, a composição é a seguinte:
A
montaria (MON), embarcação rústica, ainda é bastante representativa na pesca
local (38%), chegando a 87% e 100% nas Ilhas e Praia Grande, respectivamente.
Por outro lado os barcos de pequeno porte (BPP), medindo entre 8,00m a 12,00 m
(CEPNOR/IBAMA, 1998), representam 28%, participando com 60% na pesca do
Cajueiro, a mais estruturada a nível comercial. Por seu turno as canoas (CAN),
perfazem 19% das embarcações pesqueiras de Mosqueiro. Montarias (MON), Barco de
Pequeno Porte (BPP) e Canoas (CAN) representam, portanto 85% das embarcações em
uso. Identifica-se, também que 8% dos pescadores não possuem embarcações de
pesca, operando a atividade em parceria como meeiros na produção, seja nas
pescarias longas ou nas curtas.
Reparo de embarcação em madeira - Baia do Sol, Mosqueiro.
Como forma de enriquecer
nossas informações sobre a construção e uso de embarcações de madeiras em
Mosqueiro, lançaremos mão da importante pesquisa “COM QUANTOS PAUS SE FAZ UMA CANOA TRADICIONAL
RIBEIRINHA?” , realizada em 2007 pela Associação Ecológica de Canoagem à Vela
de Belém (AECAVBEL), donde a primeira parte se efetivou no vilarejo de Caracará,
município de Cachoeira do Arari, arquipélago do Marajó e a segunda (A
construção das Canoas de três tabuas) na Ilha Amazônica de Mosqueiro,
precisamente no Estaleiro São Pedro, Porto Pelé, bairro do Maracajá.
O artigo “COM QUANTOS PAUS
SE FAZ UMA CANOA TRADICIONAL RIBEIRINHA?”, torna-se a nosso ver, um nobre
documento histórico, pois resgata o papel contributivo de muitos “anônimos”
para o desenvolvimento das comunidades, como é o caso do saudoso mestre em
carpintaria naval da Ilha de Mosqueiro, Pedro da Páscoa Bitencourt, o mestre
Pedro, já falecido.
Acesse:
COM QUANTOS PAUS SE FAZ UMA CANOA TRADICIONAL ...
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FONTE:
Antonio
Luciano Seabra MOREIRA & Jacqueline Kelly Sagica FERNANDES, IMPORTÂNCIA DAS EMBARCAÇÕES DE MADEIRA PARA A
INTEGRAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DO ESTADO DO PARÁ. IN.: IV Congresso de Pesquisa e
Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica, Belém – Pa., 2009,
Disponível em: connepi2009.ifpa.edu.br/connepi-anais/artigos/187_1535_1276.pdf.
Acesso: 01/11/2012.
LEÃO, Pedro da Silva. ILHA
DE MOSQUEIRO: Práticas de Pesca Sustentável numa Comunidade Tradicional da
Amazônia – Estudo de Caso. 2011.92 p. Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação
em Tecnologia em Gestão Ambiental – Universidade Norte do Paraná, Belém-Pará,
2011.
Imagens:
skyscraper.talkwhat.com
flickr.com
MOSQUEIROAMBIENTAL
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