Projeto "Desenvolvimento de filtros integrantes e eco-barcos para o biomonitoramento da água dos rios"

Desenvolver filtros com a função de promover o biomonitoramento da qualidade da água dos rios, estimular a conscientização ambiental e aplicar os conhecimentos técnicos na busca de soluções para o meio ambiente. Esses são os objetivos do Projeto "Desenvolvimento de Filtros Integrantes e Eco-Barco para o Biomonitoramento da Água dos Rios", desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia (ITEC) da Universidade Federal do Pará, sob a coordenação da professora Carmem Gilda Dias. O Projeto integra atividades das Faculdades de Engenharia Naval, Engenharia Mecânica e Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA.


A poluição da água é a modificação das características de um ambiente pela adição de substâncias ou formas de energia que alteram sua natureza, de forma a prejudicar seu uso, a vida e o bem-estar de todos os seres vivos. Atualmente, uma grande quantidade de materiais pós-consumo e combustíveis de embarcações são lançados diariamente nos rios. Os impactos no ecossistema aquático aumentaram nos últimos anos com o uso indiscriminado de alguns produtos, como detergentes, pesticidas, aditivos, plásticos, entre outros. Outros fatores que comprometem o ambiente hídrico são o crescimento populacional, o processo de urbanização desordenada e a deficiência dos serviços de saneamento básico.
Com o objetivo de usar o conhecimento adquirido na Universidade para mudar essa realidade, o Projeto "Eco-Barcos para Educação Ambiental" propõe a reciclagem dos materiais pós-consumo para transformá-los em embarcação de coletas de resíduos sólidos. Assim, o eco-barco é construído a partir de garrafas PET, latinhas de cerveja e de refrigerante. A base para sua construção e o grande diferencial do produto são a técnica de roto-moldagem, que reprocessa polímeros e outros materiais reciclados. A embarcação é a primeira, no Brasil, construída com essa técnica. O trabalho também propõe promover a conscientização ecológica de quem mora na Região Metropolitana de Belém, para evitar o despejo de resíduos sólidos nos rios da região.
Pesquisa seleciona no próprio lixo elementos filtrantes
Atuando no Projeto, a estudante Ana Paula Soares desenvolveu sua pesquisa de mestrado com a perspectiva de fornecer para o eco-barco filtros que pudessem fazer o biomonitoramento da água dos rios, fazendo a integração entre as comunidades acadêmica, ribeirinha e estudantil. De acordo com a professora Carmen Gilda, os filtros foram constituídos por múltiplas camadas de elementos filtrantes com características seletivas.
"Um dos graves problemas que encontramos em nossos rios é em relação à contaminação de óleos e graxas despejados pelas embarcações. Se estamos preparando embarcações com a função de preservar o meio ambiente, por que não destinar algumas embarcações para fazer a limpeza dos óleos e graxas e, ao mesmo tempo, conscientizar a população? Foi essa a ideia que incitou este Projeto," explica a professora.
Os filtros são desenvolvidos pela equipe no Laboratório de Engenharia Mecânica da UFPA e sua arquitetura é constituída por um conjunto de funções, entre as quais, estão a conservação da fauna de macroinvertebrado e a remoção dos sólidos e líquidos viscosos. Ele foi desenvolvido em múltiplas camadas, obtidas a partir de materiais reciclados de embalagens pós-consumo, polietileno e celulose e argilominerais naturais.
Segundo Ana Paula Soares, as fibras de celulose são obtidas por meio da polpa da madeira e de outras fontes naturais. Para a construção dos filtros, o grupo usou as fibras contidas em embalagens cartonadas multicamadas, que são constituídas por três matérias-primas: estruturação de celulose, lâminas de alumínio e filmes poliméricos. Ela explica que a celulose é o composto responsável pela retenção dos óleos devido a sua compatibilidade química. Os polímeros, como o polietileno, o polipropileno e o poliestireno, são amplamente utilizados como matéria-prima para embalagens poliméricas (filmes plásticos metalizados) e apresentam algumas propriedades, como alta resistência ao impacto, baixo custo, excelente processabilidade, além de serem inertes a muitos produtos químicos e terem sido utilizados para dar resistência aos filtros, protegendo a celulose.
De acordo com a pesquisadora, esses compósitos foram escolhidos devido a suas características seletivas e, de acordo com a sua formulação, conseguem identificar, em meio a inúmeras substâncias, aquela na qual  o grupo esteja interessado, ou seja, são utilizadas substâncias que reagem de acordo com o que se quer detectar, filtrar ou imobilizar, neste caso, graxas e óleos nocivos ao meio ambiente aquático.
"O acelerado crescimento, sem condições adequadas de habitação e saneamento básico, tem prejudicado excessivamente a água dos nossos rios. Alguns estudos citados já comprovam o elevado índice de poluição existente, por exemplo, no rio Tucunduba. A nossa intenção é pegar tudo aquilo que iria para o lixo e transformar em elementos filtrantes e filtros, transformando este material reciclável em bens para a própria comunidade", explica.
Atividades de extensão envolvem educação ambiental
Além do desenvolvimento dos filtros, o Projeto propõe a conscientização da população que tem contato diariamente com os rios. As atividades estão vinculadas às atividades de extensão dos cursos de Engenharia Sanitária e Ambiental. Segundo a coordenadora, os alunos trabalharam com a comunidade Porto do Açaí, na Baía do Guajará, em Belém, mostrando como fazer a destinação adequada do lixo. "Fizemos um trabalho com a comunidade, mostrando como deve ser feito o tratamento adequado do lixo produzido, ressaltando a importância da preservação da água para a vida da população," explica Carmen Gilda.
Durante a ação no Porto do Açaí, a equipe testou, também, os filtros para coletar dados em relação à sua eficiência, que foi comprovada. Segundo a professora, a ideia é que os eco-barcos equipados com os filtros sejam doados para que a comunidade possa utilizá-los na preservação dos rios. O Projeto "Desenvolvimento de filtros integrantes e eco-barcos para o biomonitoramento da água dos rios" foi desenvolvido no período de 2008 a 2011 e já iniciou novos planos para o futuro.
Utilizando o mesmo processo de roto-moldagem, o grupo pretende fazer filtros para o tratamento de outros tipos de rejeitos encontrados nos rios, como os metais contaminantes. "Nossa universidade tem um diferencial geográfico em relação às outras, os nossos rios. Devolver o conhecimento para a população preservando o que é nosso é um orgulho," conclui a professora Carmem Gilda.
O "Eco-Barcos" é financiado pelo CNPq e tem como colaboradores o ETPP, CEFETPA, IBAMA, POEMATEC, PROEX, FAPESPA, VALE e COPALA. Informações: 3201-7324.
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