COMITÊ BRASIL EM DEFESA DAS FLORESTAS PUBLICA NOTA SOBRE NOVO CÓDIGO
Nota pública sobre o novo Código Florestal
Brasileiro
Após
análise da medida provisória e a partir do que foi sancionado, o Comitê Brasil
em Defesa das Florestas avalia que o veto parcial da Presidenta Dilma Roussef
foi insuficiente para o cumprimento de sua promessa, apesar de contrariar
interesses dos setores mais arcaicos do latifúndio, e ainda mantém a anistia e
a redução de áreas de proteção (APPs e RLs). Além disto, devolve ao Congresso
Nacional a decisão sobre a as florestas, o que será feito apenas após a Rio
+20.
Essa
situação é fruto da força do agronegócio, que está posicionado de forma
hegemônica no Congresso Brasileiro e no próprio Governo Federal. É fundamental
a convergência das lutas populares e sociais contra o agronegócio para
enfrentá-lo e avançar com as necessidades reais da sociedade brasileira.
O governo
brasileiro perdeu a oportunidade de não ceder à pressão ruralista e apontar
para o desenvolvimento sustentável e social. A mobilização da sociedade deve
continuar a pressionar o Congresso e o Governo Federal contra a anistia aos
desmatadores.
- Mantém
definição de “área rural consolidada” para ocupações ilegais ocorridas até
julho de 2008. Conceito é utilizado como base para todas as ANISTIAS previstas
na nova Lei. A última alteração na lei no que se refere às APPs foi em 1989 e
RL (somente na Amazônia) em 1996 (e não em 2008);
- ANISTIA
de RL para desmatamentos ilegais em imóveis rurais baseado no tamanho das
propriedades e não no modelo de produção familiar (Lei 11.326/06), (art. 67)
ANISTIANDO mais de 90% dos imóveis de todo país;
- ANISTIA
de recomposição de APPs (Matas ciliares) em até 80% em relação ao patamar até
então vigente. Na Lei revogada recomposição de APP variava de 30 a 500m (na Lei
4.771/65). Na nova lei (+MP) a APP a ser recomposta será de 5m a 100metros;
- ANISTIA
total de recomposição de APP de topo de morro e encostas, mantendo inclusive
pecuária (art. 63);
- ANISTIA
de recomposição de APP de nascentes, olhos d’água, lagos e lagoas naturais
entre 80 e 50% (art. 61-A, §5º e 6º);
- ANISTIA
OCUPAÇÕES em Manguezal ocupados até julho de 2008 e permite de novas ocupações
em até 35% na Mata Atlântica e 10% na Amazônia (art. 11-A);
- ANISTIA
para desmatamentos em APP de beira de rio para aquicultura em imóveis c/ até 15
Módulos fiscais, ocupadas até julho de 2008 (art.4º §6º);
- ANISTIA
TOTAL DE APP. Nos poucos casos em que deverá haver algum tipo de recomposição
em APP esta não será mais com espécies nativas (Art. 61-A, §13, IV);
- REDUÇÃO
DE PROTEÇÃO em áreas úmidas (pela alteração da base de medida de APP – leitor
regular), com necessidade de declaração do poder executivo e desapropriação por
interesse social (Art. 6º, IX);
- REDUÇÃO
de RL (NA AMAZÔNIA), inclusive para novos desmatamentos, nos Estados com 65% de
UC+TI ou Municípios com mais de 50% de UC+TI (§4º e 5º artigo 12). Esse
dispositivo afeta imediatamente 80 municípios na Amazônia. Afeta imediatamente
todos os municípios do Amapá. PARÁ está prestes a atingir 65% de UC+TI;
- REDUÇÃO
DE APP DE TOPO DE MORRO com mudança no método de definição da área a ser
preservada como APP, reduzindo em até 90% em alguns casos (art.4º);
- VETO ao
único incentivo positivo (econômico) concreto para recomposição de APPs
(contribuição do setor elétrico) previsto na Lei aprovada pelo Congresso, sob
justificativa de que tal medida contraria interesse nacional. – Art. 43
(Vetado);
-
Cadastro Ambiental Rural inerte, sem transparência e apenas para consolidar uso
ilegal.
Diante do
exposto, o texto sancionado manteve vários dispositivos com ANISTIAS e REDUÇÃO
DE ÁREAS DE PROTEÇÃO (APPs e RLs) aplicáveis em todas as categorias de imóveis
e devolve ao Congresso Nacional a decisão final sobre as alterações, após
a Rio+20.
Brasília,
28 de maio de 2012
O Comitê em Defesa das Florestas e do
Desenvolvimento Sustentável é coordenado por: ABONG; CNBB; Coalizão SOS
Floresta (Amigos da Terra – Amazônia; APREMAVI; FLORESPI; Fundação O Boticário;
Greenpeace; ICV; IMAFLORA; IPAM; ISA; SOS Mata Atlântica; WWF-Brasil; Sociedade
Chauá; SPVS); Comissão Brasileira de Justiça e Paz – CBJP; CNS; Comitê
Inter-Tribal; CONIC; CUT; FETRAF; FNRU; FASE; FBOMS; FETRAF; Fórum de Mudança
Climática e Justiça Social; Fórum ex-Ministros Meio Ambiente; GTA; IDS; INESC;
Instituto Ethos; Jubileu SUL; OAB; Rede Cerrado; Rede Mata Atlântica; REJUMA; Via
Campesina (ABEEF, CIMI, CPT, FEAB, MAB, MMC, MST, MPA, MPP e PJR).